quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Segundo turno: do debate ao programa político

Segundo Turno: Do debate ao programa político

Jasson de Oliveira Andrade
O segundo turno começou mesmo com o debate na Band. A grande surpresa foi a agressividade de Alckmin, que deve ter agradado seu eleitorado mais fanático. Na opiniăo do professor Marcos Nobre, em artigo na Folha, o tucano “deixou contente seu eleitorado mais rico”.
Entretanto, essa atitude năo agradou ao eleitorado.
Depois do encontro, Alckmin caiu nas pesquisas e Lula subiu. O tom agressivo e excessivamente arrogante foi, para alguns analistas políticos, o responsável pela queda.
Analisando o resultado do Datafolha, Franklin Martins o relacionou ao debate, concluindo: “năo há dúvida de que o estilo Mike Tyson adotado pelo tucano no confronto com Lula foi um tiro pela culatra”.
Dizia-se que Alckmin venceu o debate, mas perdeu pontos.
Quem afirmou que o tucano foi melhor, diz uma verdade pela metade. Pelo Datafolha, realmente ele venceu “entre os que assistiram ao debate EM PARTE”.
Mas entre os que assistiram ao debate INTEIRO, o resultado foi: Lula, 44% e Alckmin, 42%.
Estranhamente ninguém comentou esse resultado. Será porque ele foi favorável ao presidente? Năo estaria aí o aumento dele e a queda do tucano na pesquisa? Acredito que sim!
Terminada essa primeira etapa, passou-se ao programa político. Nele, Lula apresenta o que fez e o que pretende fazer caso reeleito.
No programa de Alckmin, pouca propositura e mais ataque, destacando o dossiê. Fernando de Barros e Silva, em artigo na Folha, comenta: “De onde veio o dinheiro?” Geraldo Alckmin transformou a pergunta numa espécie de mantra de campanha. Repete-a por toda parte como um sonâmbulo.
Se as fotos derrubaram Lula no primeiro round, a superexposiçăo da imagem e a repetiçăo da pergunta tendem a provocar agora um efeito inverso: passa-se do choque à hipnose, da indignaçăo ao tédio – aquele que se diz porta-voz do Brasil decente corre o risco de ser tachado de oportunista”.
Essa repetiçăo, que pode se tornar enervante, năo é uma estratégia equivocada?
Em resposta a essa pergunta, o deputado tucano Alberto Goldman, que se elegeu vice-governador do Estado, reconheceu: “Năo. É A ÚNICA POSSÍVEL (destaque meu).” Por que é a única possível. É que Alckmin năo pode discutir economia e fazer a comparaçăo entre o governo FHC e o do Lula. É o que vamos ver a seguir.
Quando Lula se elegeu, em 2002, comentava-se que o governo dele seria o caos. Iríamos à bancarrota e o Brasil retrocederia. Isso năo aconteceu. Pelo contrário.
A política econômica do presidente se tornou um sucesso, reconhecida pelas manchetes da imprensa escrita e falada. Năo vou repeti-las para năo me tornar cansativo.
Agora, ao contrário, a possível política econômica de Alckmin é que está causando medo. Essa manchete do Estadăo diz tudo: “Nakano, do PSDB, propơe controle de capitais e vira alvo de ataques – Declaraçơes do economista sobre política monetária e cambial săo vista com temor pelo mercado financeiro”. Para quem năo sabe, Nakano foi o responsável pela economia do Estado de Săo Paulo, quando Alckmin era governador e agora é um dos formuladores do programa econômico dele. O Estadăo, no Editorial “O aloprado de Alckmin”, critica essa formulaçăo econômica, dizendo: “(...) o autoterrorismo aloprado de Nakano inquietou os mercados”. Em vista da má repercussăo da proposta, Alckmin procurou acalmar o mercado e seus maiores eleitores, os ricos, afirmando: “Pelo meu governo só falo eu”.
Em minha opiniăo, caso o tucano vença as eleiçơes, realmente essa proposta é preocupante. Quem poderá garantir que o seu guru econômico năo irá ditar a política do setor?
Por sinal, em Săo Paulo, o propalado saneamento financeiro tornou-se uma balela, uma mentira. Para pagar dívidas, o governo estadual pretendeu vender açơes da Nossa Caixa. Isso só năo aconteceu porque Serra pediu e Lembo atendeu: agora năo mais serăo vendidas as ações!
Uma atitude desta destruiria qualquer candidatura, mas Alckmin é considerado, pelo menos em Săo Paulo, como bom administrador. E com Nakano a tiracolo!
A política econômica tucana é perigosa. Entăo, apela-se para o dossiê, principalmente para a foto do dinheiro. No debate, essa estratégia Mike Tyson tirou votos de Alckmin. E na propaganda eleitoral?
No momento, segundo o Datafolha de 17 de outubro, também: Lula está subindo, Alckmin caindo. Nessa nova pesquisa, nos votos válidos, Lula está com 60% e Alckmin, 40%.
Diferença: 20 pontos.
Jasson de Oliveira Andrade é jornalista em Mogi Guaçu
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