terça-feira, 7 de novembro de 2006

Porque Alckmin perdeu

Jasson de Oliveira Andrade


A derrota de Alckmin, por uma enorme margem de votos (mais de 21 pontos) , agora está sendo “explicada”. Neste artigo pretendo analisar alguns aspectos dos possíveis motivos porque o tucano perdeu.
O início se deu com a demora na escolha do candidato. José Serra, nas primeiras pesquisas, era o preferido e considerado o único que poderia derrotar Lula. Alckmin não pensava assim e resolveu sair candidato. Começava, então, a briga entre os dois. Um artigo que escrevi na época, mostra o que se passava: “Tucano bica tucano”. Alertei na mesma oportunidade, em fevereiro de 2006: “Lula em campanha: Oposição briga”.
Em recente texto (“E se os Chalitas da vida tivessem sido ouvidos?”) , o jornalista tucano, colaborador da Veja, Reinaldo Azevedo, mostra os bastidores da briga: “A zonzeira que tomou conta do PSDB e dos setores ligados a Alckmin no PSDB era tamanha, que se articularam manifestos para que José Serra ficasse na Prefeitura de Săo Paulo. A desculpa era o papelucho assinado [Azevedo se refere ao compromisso de Serra em não renunciar à Prefeitura de São Paulo] , aquele do Gilberto Dimenstein, que não servia nem para fazer avião de dobradura”.
E o que aconteceu? O jornalista revela: “Faixas foram colocadas na cidade cobrando que Serra não saísse candidato. E não foi coisa de petista, não. Mas de tucano metido a espertalhão. Que tal a gente escarafunchar os arquivos e ver o que andavam dizendo esses luminares à época? E se tivessem sido ouvidos? No dia 1º de janeiro, os petistas estariam tomando posse dos Palácios do Planalto e dos Bandeirantes”.
Depois de muito tempo de refrega, Alckmin finalmente foi escolhido e, após a faixas descritas por Azevedo, os alckmistas incentivaram Serra a sair ao governo do Estado, o que realmente ocorreu. Entretanto, ficou a mágoa dos serristas. Por esse motivo, estranhei que, ao votar a 29 de outubro, Alckmin estava acompanhado de Serra e Fernando Henrique. Foi uma pose para tentar demonstrar que nada havia entre eles. Outra briga que também prejudicou a campanha. Desta vez entre os pefelistas na escolha do vice de Alckmin. O senador José Jorge, de Pernambuco, derrotou o senador José Agripino, do Rio Grande do Norte, crítico mordaz do governo Lula. A escolha não trouxe um voto no Nordeste para o tucano. Como foi ministro de Energia de FHC, tornou-se conhecido como o “ministro do Apagão”. Do lado do presidente, o vice escolhido, José Alencar, de Minas Gerais, provavelmente tenha sido o responsável pela grande votação de Lula naquele Estado, apesar de Aécio Neves. Os mineiros, talvez, quisessem ter um Vice no governo!
O outro motivo da derrota, o principal, foi a propaganda de Alckmin na TV e no rádio. Era considerada como a esperança na virada. Pelo contrário, tirou pontos. E recebeu muitas criticas. José Nêumanne, em artigo no Estadão, sob o título “O incrível candidato que encolheu”, constatou que “foi o presidente [Lula] que protagonizou uma campanha eficiente do ponto de vista da comunicação, enquanto chamar a do ex-governador [Alckmin] de medíocre seria um exagero de otimismo, pois, de tăo fraquinha, a coitada não cabe sequer numa palavra que lembre meio”, criticando ainda “a fé [do candidato tucano] na capacidade de esmagar o adversário apelando para o “samba de uma nota só” do discurso da moralidade pública”.
A jornalista Vanda Vedovatto, de Mogi Guaçu, também não gostou desses programas: “Nos últimos dias fiquei observando a propaganda de Alckmin no rádio e na TV. “Vereador aos 19 anos, prefeito aos 23, deputado por duas vezes, vice de Mário Covas...” E eu ficava me perguntando: e daí? Alckmin ficou devendo – e muito – aos eleitores. Năo sei se foi Lula quem venceu ou se Alckmin é quem perdeu”.
Eu também não me conformava, como ex-marqueteiro, quando Alckmin, no final do programa, aparecia andando, de terno e gravata, todo empolado, pomposo, dando a impressăo de arrogante. Inacreditável. O Datafolha, em pesquisas dos programas dos dois presidenciáveis, assim os avaliou: Mais comovente: Lula 53; Alckmin, 28. Mais criativa: Lula, 52; Alckmin, 38. Mais clara quanto a propostas: Lula, 52; Alckmin, 39. Mais bem produzida: Lula, 51; Alckmin, 39. Mais verdadeira: Lula, 50; Alckmin, 35. Mais bem-humurada: Lula, 50; Alckmin, 27. Que faz mais crítica ao adversário: Lula, 26; Alckmin, 64.
A manchete da Folha, ao publicar esse resultado, reflete o que realmente aconteceu no dia 29 de outubro: “Eleitor repele críticas a rival na televisão”.
Foi o que aconteceu no debate na Band, quando Alckmin exagerou nas suas críticas, perdendo muitos pontos, que não recuperou. Resultado: Lula venceu a eleição por uma diferença de 21,6 pontos.
Existem outros motivos. Ficarei apenas nesses dois, fundamentais na vitória fácil de Lula e na derrota de Alckmin, encolhendo no segundo turno, fato inédito em nossa História.
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu

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