terça-feira, 25 de março de 2008

Dengue cresceu 100% no Rio enquanto caiu 40% no país

25/03/08
“Em todo o país, nós conseguimos baixar os índices da doença, e só no Rio houve crescimento”, afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Vereadores do Rio acusam a Prefeitura de desviar recursos destinados ao combate a dengue. Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde afirma que agentes de combate ao mosquito foram demitidos por denunciar más condições de trabalho
O governo federal anunciou uma série de medidas emergenciais, que envolvem a criação de um gabinete especial, a contratação de pessoal especializado e o auxílio das Forças Armadas para ajudar o Rio de Janeiro a combater a epidemia de dengue, que infectou 2.053 pessoas só nos últimos dois dias na capital. As vítimas da dengue, a maioria crianças, lotam os hospitais públicos e particulares, e enfrentam filas de espera de até 5 horas.
“Em outubro de 2007 eu alertei que o Brasil tinha um quadro de epidemia de dengue e mostrei preocupação especial com o Rio de Janeiro”, afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. “Em todo o país, nós conseguimos baixar os índices da doença, e só no Rio houve crescimento”, esclareceu o ministro, informando que houve uma redução de 40% na incidência da doença no país este ano enquanto na capital fluminense o aumento foi de 100% em relação ao mesmo período do ano passado.
DESVIO DE VERBA
Um relatório da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio, que será encaminhado ao Ministério Público nos próximos dias, denuncia o desvio dos recursos repassados pelo Ministério da Saúde à Prefeitura do Rio para o combate a dengue. O relatório aponta que a Prefeitura recebeu R$ 18,1 milhões do Ministério na rubrica “Teto financeiro de vigilância em Saúde”, que se destina ao combate e prevenção de doenças infecciosas. “Apenas 12 milhões foram liquidados pela Prefeitura, sendo que metade desse valor não foi direcionado para a dengue”, denunciou o vereador Carlos Eduardo, presidente da Comissão.
Segundo o relatório dos vereadores, houve “desvio de finalidade” e esses recursos foram usados para a compra de ambulâncias e para contratos de serviço de limpeza hospitalar, mesmo com fortes indícios de que uma epidemia de dengue estaria prestes a se alastrar pela capital.
Na última sexta-feira, o Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde do Rio de Janeiro acusou a Prefeitura da capital de ter demitido agentes que trabalhavam no combate ao mosquito na Zona Oeste, uma das regiões mais atingidas pela dengue na capital. Segundo o Sindicato, os agentes foram demitidos por liderarem protestos e denúncias contra as más condições de trabalho.
Através de nota divulgada na última semana, o Ministério da Saúde também afirmou que “um dos problemas enfrentados no Rio de Janeiro é a baixa implementação das equipes de saúde da família e a desestruturação da atenção básica”. Segundo o Ministério, as equipes de saúde familiar cobrem apenas 8% da população do município, um dos índices mais baixos do país.
RECORDE DE SERRA
Desde o início de janeiro, a epidemia já atingiu 23.555 pessoas no município do Rio, causando 30 mortes. Com isso, o Estado tem agora um total de 32.615 casos e 48 mortes. O número de casos é alto, porém não chega perto do total registrado em 2002, quando o Rio enfrentou a pior crise de dengue da sua história, com um recorde de 138.027 casos.
Em 2002, dois anos após a demissão de 5.500 mata-mosquitos promovida pelo então ministro da Saúde José Serra, o Brasil chegou a registrar 794 mil casos de dengue num único ano. Além das demissões, Serra descentralizou o controle da dengue, que era feito pela Funasa, e o repassou aos municípios. O resultado foi que os casos no Brasil saltaram de 180 mil - quando Serra assumiu a pasta - para 794 mil no final de 2002, com 2.714 casos de dengue hemorrágica e 150 mortes em função da doença num único ano.
FALTOU PREVENÇÃO
José Gomes Temporão afirmou que o número de mortes ocorrido pela dengue no Rio está “completamente fora do que nós consideramos que seria razoável”. Para ele, “as explicações são múltiplas. O fato de os vírus 2 e 3 estarem circulando e atingindo principalmente as crianças é um fator; o de termos muita chuva e calor no Rio é outro; e a desorganização e baixa qualidade da rede de atenção primária, no Rio, é um. A estratégia, agora, é melhorar o atendimento.”
O Ministério da Saúde ressaltou que “se tomados os devidos cuidados, o índice de mortalidade é praticamente nulo. Em 2007, no município de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, houve uma incidência da doença tão grave quanto a que está ocorrendo no Rio de Janeiro. Ocorreu apenas um óbito porque a qualidade do atendimento primário em Campo Grande era muito boa, principalmente pela cobertura do Programa Saúde da Família. E eram os mesmos tipos de vírus circulando”.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, atribuiu à Prefeitura o agravamento da situação. Durante a inauguração das tendas de emergência que vão administrar soro para pacientes com dengue, Sérgio Cabral afirmou que “o trabalho preventivo é um trabalho tipicamente municipal. No ano passado, a Prefeitura de Campo Grande enfrentou a epidemia da dengue com honra e competência e, esse ano, não temos a crise lá”, disse. E ressaltou quer, no caso da Prefeitura do Rio, faltou “trabalho preventivo durante o ano inteiro”.

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