quarta-feira, 30 de abril de 2008

Falta trigo? Milho? Vejam o que o mestre Aloysio Biondi dizia, há DEZ anos, sobre a destruição que FHC causou a nossa agricultura!





Extraído do site O Brasil de Aloysio Biondi



Agricultores, “macaquitos” e covardia
Jornal Folha de S.Paulo , quinta-feira 16 de abril de 1998
O Brasil já chegou a produzir todo o trigo que consumia, algo como 6 milhões de toneladas por ano, na época. Neste ano, vai colher pouco mais de 2 milhões. Produzia 11 milhões de toneladas de arroz. Agora, recua para 9,5 milhões. Foi um dos maiores exportadores mundiais de algodão. Os produtores locais, inclusive do Nordeste, foram arrasados por importações; a área plantada caiu até 75%, isto é, três quartos das terras foram abandonadas.
Exemplos como esses, do “massacre” da agricultura brasileira nos últimos anos, pela equipe FHC, são infindáveis. Por que a produção de trigo vai recuar novamente neste ano?
Pasme-se: para um consumo de 8 milhões de toneladas, o Brasil importou 6 milhões em 1997 – e agora, época do plantio da nova safra, os produtores brasileiros estão com 1 milhão de toneladas da colheita passada “encalhadas”. De onde vêm as importações? Da Argentina, basicamente. Por quê? Porque o governo argentino garante empréstimos, para os produtores exportarem, com prazo de pagamento de 400 dias (um ano e um mês), a juros de 8% ao ano. Logicamente, os moinhos preferem importar, já que aqui dentro só obtêm empréstimos de curtíssimo prazo, nos bancos – a juros de 5% a 10%. Ao mês.
E o arroz? Por que a produção caiu? Porque em 97 a equipe FHC determinou que o Banco do Brasil cortasse violentamente o crédito: cada produtor só conseguiu dispor de 25% (isto é, um quarto) do crédito a que até então tinha direito. Para plantar. E mais: nas principais regiões produtoras, como Pedro de Toledo, no Rio Grande do Sul, as dívidas dos produtores de porte médio para cima não foram renegociadas.
E o algodão? A mesma história: a equipe FHC reduziu o Imposto de Importação sobre a fibra para apenas 2%, mesmo sabendo que países como os EUA vendem o algodão (e outros produtos) a preços artificialmente baixos, isto é, o governo subsidia a venda, pagando uma "diferença" ao produtor/exportador. Além do corte no imposto, o algodão importado (como outros produtos) oferecia financiamento por 180 ou 360 dias – e taxas de juros de 8% ao ano. Lógico, o algodão nacional não poderia competir.
Promessas, só
Queijos e outros laticínios, frutas frescas, pêssegos em conserva, até o leite de coco – nenhum produto deixou de ser abalado pelas importações em condições que o agricultor brasileiro não tem. A agricultura brasileira poderia gerar empregos, renda e dólares – com exportações maiores e importações menores. Mas tem sido massacrada.
Por força de lei, o governo sempre foi obrigado a comprar as colheitas dos produtores, sempre que os preços despencassem abaixo de certos níveis (os chamados "preços mínimos") – fosse por causa de uma superprodução ou fosse por manobras de atravessadores e especuladores.
A equipe FHC, além de “escancarar” o mercado, nos últimos anos suspendeu a lei, na prática – e deixou de comprar as colheitas, a pretexto de acabar com o “protecionismo” e forçar a modernização da agricultura. Por isso, sobra hoje 1 milhão de toneladas de trigo do ano passado. Por isso, produtores de milho, feijão e algodão sofrem prejuízos sistemáticos, na hora de vender suas safras. As "inovações" anunciadas para beneficiar a agricultura são sempre pura empulhação.
Há mais crédito? Financiamento? A equipe FHC permitiu que os bancos tomassem dinheiro emprestado no exterior, a juros mais baixos, para emprestar – essa a mentira – à agricultura. Na verdade, o dinheiro da chamada “63 caipira” pode ser aplicado, pelos bancos, em títulos do governo federal com correção cambial (vale dizer: se houver “maxidesvalorização”, os bancos não têm prejuízos...). Resultado: os bilhões da “63 caipira” não estão sendo emprestados aos agricultores, e sim aplicados em títulos.
Outra inovação anunciada como “apoio à agricultura” e que é um espantoso retrocesso: para um número mínimo de três ou quatro produtos, o agricultor ainda tinha a chance de tentar vender sua colheita ao governo, por meio de um esquema "sofisticado" de leilões e uso da Cédula do Produtor Rural. Pois neste ano o sistema passou a beneficiar, com a liberação de dinheiro, as indústrias e beneficiadores que utilizam produtos agrícolas como matéria-prima. Isto é, volta-se à década de 70, quando os “atravessadores” recebiam empréstimos do governo e ficavam em condições de impor preços baixos na hora de comprar a colheita do produtor. Produtor sem crédito.
Em quatro anos, a agricultura da Argentina deu um salto de 20 milhões de toneladas em sua produção, passando da casa dos 40 milhões para 60 milhões de toneladas por ano. O Brasil, no mesmo período, não saiu de faixa dos 75 milhões a 80 milhões de toneladas. Lá existem política agrícola, crédito, prazos, juros baixos. Pelo menos uma vez, poderíamos confirmar a fama de “macaquitos”, e imitar essa política de apoio à agricultura, da Argentina – e outros países. Como está, é covardia. E burrice empetecada.
PAINEL DO LEITOR 27/04/1998 Agricultura em crise
“Não obstantes a frieza e a indiferença daqueles que decidem os destinos do país diante do sufoco que vive, há anos, a agricultura nacional, a Folha, de tantas tradições de informar e de discutir democraticamente as questões que interessam à sociedade, presta, uma vez mais, relevante serviço à agricultura brasileira. Referimo-nos ao artigo ‘Agricultores, macaquitos e covardia’, do ilustre jornalista Aloysio Biondi (Dinheiro, 16/4). Dada a grande repercussão nos meios ligados à atividade rural no país, queremos parabenizar a Folha e Biondi pela excelência e pela oportunidade da matéria contida no artigo.”
Nuri Andraus Gassani, presidente do Sindicato Rural do Distrito Federal (Brasília, DF)

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